terça-feira, 13 de outubro de 2009

meu filho não come...

A cena é conhecida por nove entre dez mães: depois de horas no fogão, preparando a refeição perfeita para o filhote, ele simplesmente se nega a experimentar. Você faz aviãozinho, monta uma carinha engraçada no prato, usa toda a sua lábia, inventa histórias, promete mundos e fundos se ele provar... mas aquele bebê tão fofinho se revela um monstrinho teimoso, que não tira a mão da frente da boca.

Se forçar, pior ainda: ele cospe tudo, faz que vai vomitar e ainda abre o berreiro. Resultado: você troca o jantar por um iogurte, fica frustrada e o pequeno ainda se alimenta mal. E agora?

Para começo de conversa, saiba que negar comida é um comportamento perfeitamente normal entre as crianças. A nutricionista Teresa Bello explica que a falta de apetite pode ocorrer por diferentes motivos até mesmo para chamar sua atenção, porque o pequeno logo percebe a importância que os pais dão à refeição.O que não é normal é isso virar hábito, colocando em risco a saúde do seu filho e transformando cada refeição num tormento. Se é o seu caso, vá ao pediatra, porque só um longo tratamento de reeducação pode transformar esse comportamento.

Se a negação acontece só de vez em quando, ou se você tem a sorte de não ter passado por isso ainda, tanto melhor, porque está em tempo de prevenir. Ensinadas desde bem pequenas, as crianças podem aprender a gostar de qualquer tipo de alimento.

Como mudar um hábito é sempre muito difícil, é essencial passar aos pequenos costumes saudáveis desde cedo. Para ajudá-la, reunimos com a ajuda da nutricionista Teresa dicas simples e eficazes para ensinar o pimpolho a comer bem e com prazer.

Até os seis meses, seu filho não precisa de nada além do leite materno.
Nesse período de vida, oferecer só leite materno é mais do que suficiente, pois ele supre todas as necessidades do bebê e ainda protege contra doenças, evita diarréia, fortalece a musculatura do rosto e previne problemas de fala. Assim, a oferta de chás e água é desnecessária e ainda pode prejudicar a sucção do bebê.

Seja um bom exemplo.
Quando nasce, a criança tem nas papilas gustativas, localizadas na língua, a determinação genética das preferências e aversões alimentares que terá ao longo da vida. Entretanto, a influência do ambiente em que ela vive, o exemplo dos pais e as experiências positivas ou negativas podem ser mais fortes que a genética.

Ou seja, talvez sua filha naturalmente não se sinta atraída por carne vermelha, mas com o hábito em casa, pode aprender a gostar. Maus exemplos e preconceitos também são ensinados desse jeito.

Talvez ela seja uma fã de frutas por natureza, mas se você não tem o costume de comê-las e ainda faz cara feia quando lhe oferecem uma maçã, é provável que sua filha também adquira resistência a esses alimentos. Depois não adianta exigir que a criança goste de pratos que os próprios pais não comem.

Não insista demais.
Mãe sempre acha que o filho está comendo pouco e acaba forçando o pequeno a comer mais do que ele precisa ou agüenta. A oferta de um volume de alimentos maior do que a capacidade gástrica da criança diminui o prazer de comer do bebê e aumenta a ansiedade dos pais , alerta a nutricionista Teresa.

Não tente bancar a chef de cozinha testando várias misturas. Prefira os alimentos básicos e introduza-os um a um na alimentação do bebê, gradativamente. É no primeiro ano de vida que a criança conhece novos sabores e aprende sobre as texturas dos alimentos, e cabe a você apresentá-los ao pequeno e identificar uma possível intolerância ou alergia. Ofereça uma fruta, um legume ou uma verdura de cada vez, na forma de papa ou purê, amassado com o garfo, nunca liquidificado.

Aposente aos poucos o aviãozinho.
Inventar técnicas para fazer o filho abocanhar a comida, como distrair com um brinquedo ou com a televisão ligada e camuflar o alimento não educam para o prazer de se comer bem. Podem até funcionar na hora, mas perdem rápido seu efeito e você vai ter que exercitar muito a criatividade para criar tantas novas artimanhas. A hora de comer é hora só de comer, prestando atenção aos sabores, texturas, aromas, cores...

Substitua o alimento recusado por outro do mesmo grupo nutricional.
Você insiste no brócolis mas o bebê cospe tudo, abre o berreiro e provoca ânsia de vômito? Tente espinafre. Rejeita o feijão? Ofereça a lentilha. Insistir exageradamente em um alimento específico pode diminuir o prazer com o ato de comer, reforçando a falta de apetite , explica Teresa.

Também vale mudar o jeito de preparar. Ela não quis espinafre refogado? Ponha as folhas no suflê, na omelete, no sanduíche... Lançar mão de ervas e condimentos como pimenta, páprica e curry também pode ajudar muito. A idéia não é encobrir o gosto, mas deixá-lo mais interessante.

A criança deve comer primeiro com os olhos. Nada de gororobas misturadas. Ofereça as comidinhas em porções pequenas e coloridas, dispostas no prato em porções separadas e divertidas. De preferência, que ele possa comer sozinho, com as mãos até.

Deixe que ele descubra as cores, formas, texturas e faça combinações como quiser. Transformar o chato prato-feito em uma refeição lúdica aumenta as chances do pequeno experimentar novidades e aprender sobre o sabor de cada alimento.

Assim como o humor, o apetite pode variar de um dia para outro.
Instabilidade alimentar é normal. Comeu pouco hoje? Compense os nutrientes no dia seguinte. Mas é bom deixar claro: compensar em qualidade, não em quantidade!

Não tenha medo de impor limites.
Já foi comprovado que a criança nasce com preferência para o sabor doce e resistência ao amargo. Por isso, é normal preferir chocolate a espinafre. O problema está em deixar de ingerir o alimento saudável e abusar da guloseima.

Até um ano de idade, seu bebê possui um estômago mais sensível, que pode ser irritado pelas substâncias presentes nas porcarias , como enlatados e refrigerantes. Isso compromete a digestão e a absorção nos nutrientes. Resista às birras e estabeleça limites, seguindo horários fixos para fazer as refeições e insistindo em uma alimentação nutritiva.

Use a regra do três.
Se seu filho está na fase de contrariar, é bem capaz que diga não só por esporte. Drible as negações propondo um trato. Ele terá que provar cada alimento três vezes para ter certeza de que não gosta. São três garfadas: a primeira para descobrir que gosto tem, a segunda para saber se é bom ou ruim, e a terceira para ter certeza.

Você vai se surpreender ao ver como a terceira garfada faz crianças mudarem de opinião! Se ele realmente não gostar, cumpra a sua parte no trato e deixe a comida de lado ao menos por essa refeição.

Alimento não é recompensa e muito menos castigo.
Nada de se comer a salada pode comer a sobremesa ou vai ficar sem ver TV se não raspar o prato . Também não invente de fazer o jogo dele, em chantagens do tipo se comer tudo, a mamãe vai ficar feliz e você vai ganhar uma surpresa . A comida não deve ser vinculada a sentimentos nem prêmios.

Dentro do nível de entendimento da criança, ensine por que é realmente importante comer determinados alimentos: a cenoura é boa para a pele e os olhos, o macarrão e o arroz dão energia e o feijão deixa forte...

Não ceda à chantagem da greve de fome.
Ele não quer comer o jantar balanceado e insiste em tomar sorvete. Para não deixar o pequeno de barriga vazia, você topa a chantagem e deixa ele se lambuzar à vontade, depois de prometer que vai comer direitinho na próxima refeição.

Sabe o que vai acontecer? No dia seguinte, seu espertíssimo filhote vai recorrer à mesma tática, se negando a comer o que é certo, em troca dos seus alimentos preferidos. Não caia nessa.



Se ele não quer comer o jantar nem nenhuma das alternativas saudáveis que você ofereceu, deixe ele ir para a cama de barriga vazia. Fome só de sorvete (ou chocolate, ou bolacha, ou pão...) não existe.

Não deixe os lanchinhos melarem a disciplina.
Na hora do almoço ele não quis comer nada, mas uma hora depois estava pedindo pelo lanche e se entupiu de biscoitos. Não deixe! Seja firme: se a criança disse que estava sem fome no almoço, vai ter que esperar até a hora certa do lanche e quando ela chegar, vai ter que se contentar com a quantidade correta, mesmo que a fome seja maior.

Continuou com vontade? Ensine a ela a guardar a barriga para o jantar. Depois de alguns dias, seu filhote vai perceber que não tem jogo e é melhor comer o almoço inteiro para não ficar com vontade depois.

O lanche da escola deve ser uma continuação da refeição em casa.
A formação de um hábito alimentar saudável continua fora de casa. Para as crianças que fazem as refeições na escola, cabe aos pais conferir se o cardápio é variado, se é elaborado por um profissional e a forma como são apresentados os alimentos. Se o lanche é levado pronto de casa, é importante acompanhar o padrão da alimentação oferecida pela família.

Informe os avós sobre a alimentação adotada para o bebê.
Antes de dizer que avô e avó estragam a criança, converse com eles sobre como seu filho está se alimentando. Se um diz que pode e o outro diz que não, o pequeno fica confuso e não sabe a quem deve obedecer. É importante estabelecer regras para que a criança não adquira hábitos negativos em relação à alimentação , diz Teresa.


É importante que as mães e os pais compreendam que o apetite da criança diminui após o primeiro ano de vida, por uma mudança normal de padrão. A criança normal triplica seu peso no primeiro ano de vida, e aumenta apenas cerca de 10 a 20% de seu peso nos primeiros anos de vida depois do primeiro.

Além do mais, essa é uma época de gripes e resfriados freqüentes, quando o apetite diminui mais ainda. O importante é não forçar a criança a comer como antes, mas oferecer mais comida a ela quando estiver se recuperando e o apetite aumentar.

O acompanhamento do crescimento através do cartão da criança também é muito útil para verificar se ela está se desenvolvendo corretamente ou tem algum problema. O certo é que ela ganhe peso, mesmo que pouco, a cada mês. Se ela estiver acompanhando a curva, dentro dos limites máximo e mínimo, está tudo bem. No entanto, nesta fase, a criança pode mudar de peso com alguma freqüência, sem que isto seja motivo de preocupação. A não ser que a perda de peso seja grande e súbita.

O que é o apetite? É a fome, a vontade de comer. E por que temos fome? Porque precisamos de alimentos para que o nosso corpo retire dele os nutrientes e a energia indispensáveis à vida. Os nutrientes é que asseguram a reposição de energia que gastamos todos os dias. Nós, adultos, só precisamos repor as energias que despendemos para viver; mas as crianças, além disso, precisam de mais alimento ainda, para crescer. É por isso que, em relação ao próprio peso, elas comem mais do que os adultos.

Quando o organismo sente que está em falta de nutrientes, reclama, provocando reações em nosso corpo: contrações no estômago, dores, avisos de que está na hora de comer. Se a fome é muita e demoramos a satisfazê-la, o corpo responde com tonturas, mal-estar, dor de cabeça.

Cada pessoa tem sua prórpia necessidade de alimentos sólidos ou líquidos. Umas precisam mais, outras menos. Umas sofrem muito com a fome, outras menos. Uma criança miúda precisa comer menos do que outra da mesma idade mas que tem um corpo maior para sustentar. Também pode ocorrer que duas crianças da mesma idade e com o mesmo peso tenham apetites diferentes, porque suas necessidades são diferentes, desenvolvendo-se as duas normalmente.

O apetite varia muito, dependendo da constituição da criança, uma coisa pessoal e intransferível, que deve ser respeitada. Não tem cabimento ficar comparando o que seu filho come com o que outras crianças comem. É errado alimentar uma criança segundo tabelas e quantidades pré-determinadas.

Antigamente, costumava-se pesar o bebê antes e depois da mamada, ou a criança, depois de comer, para saber se havia se alimentado o suficiente. Suficiente, no entanto, é a quantidade que satisfaz a criança, e sobre isso ela é o único juiz de sua necessidade. Há bebês que mamam muito, em espaços longos; outros mamam pouco, a intervalos curtos; assim como há os que mamam muito em intervalos curtos e os que mamam pouco com longos intervalos: tudo depende da necessidade de energia de cada um e do quanto cada um deles teve a oportunidade de gastar. Assim também com a criança, dependendo da energia que ela consome.

Crianças pequenas não conseguem imaginar a causa da fome e. com fome, sentem-se injustiçadas. Muitas chegam a imaginar que a fome é uma espécie de castigo, que não sabem quando vai acabar. Por isso mesmo, para que a criança não se sinta insegura, não devemos deixá-la com fome além do tempo indispensável, principalmente porque a falta de comida prejudica o desenvolvimento emocional e afetivo.

Nenhuma criança deixa comida no prato se está com deficiência energética, mal alimentada ou com fome. Também não há um padrão a respeito do apetite de uma criança: hoje ela pode comer pouco e amanhã "comer bem", na avaliação da mãe. O apetite e, conseqüentemente, a quantidade de comida que a criança ingere é sempre proporcional à sua necessidade de energia, à sua atividade, ao seu crescimento.

Mas existe uma grande relação entre o apetite e a vida emocional. Um ambiente carregado, a pressão dos adultos para que coma, problemas emocionais, tudo isso é capaz de tirar o apetite da criança. Mesmo tendo necessidade de comer, a hora de comer é tão desagradável para ela que a criança prefere não comer. Discussões, gritos à mesa, brigas, queixas e reclamações, mesmo que não se dirijam à criança, acabam tirando o seu apetite.

Se for contra ela, então, pior, porque a criança passa a relacionar a hora de comer com momentos desagradáveis e isso pode comprometer seu apetite.

Além do ambiente e do estado de espírito, a aparência visual da comida, o cheiro, o gosto, tudo tem importância porque quando a criança come com prazer come mais. Por isso mesmo (pelo prazer que ela sente) é que toda criança gosta muito de ir às lojas de fast food, onde sempre come muito.

Obrigada a comer o que não gosta, forçada a comer quando não tem fome, infernizada pelos pais, a carga emocional negativa que se soma pode resultar em que a criança não consiga mais comer, mesmo quando tem necessidade. E isso sim, passa a ser um problema, tão grande quanto o da criança que come em excesso. Nos dois casos ela está doente e precisa de atenção especializada.

Não force seu filho a comer, nem force a comer tudo. Não implique coma criança e respeite o seu paladar. Se quer que ela coma tudo, coma você também, para dar o exemplo. Procure fazer da hora da refeição um momento de prazer para todos e não seja preconceituoso: um bom sorvete pode ser tudo do que ela precisa no momento, em matéria de energia.

Importante: a criança precisa de espaço seguro, de tempo e liberdade para brincar, exercitar-se, para explorar e para divertir-se, para gastar energias e ter fome.

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